domingo, 28 de junho de 2009

Corrida ao Árctico| Arctic chase

A escrever a partir de Bird Island, Geórgia do Sul (Antárctica)
Writing from Bird Island, South Georgia (Antarctic)

Se a Antárctida é um continente onde os principais países do mundo concordaram em fazer ciência para o bem da Humanidade, porque será que o mesmo não acontece no Árctico?


















(A Antárctica é linda, não é?| The Antarctic is beautiful, don´t you think?)

As últimas notícias anunciam novamente que as alterações climáticas estão a afectar grandemente o Árctico, como o gelo a desaparecer cada mais mais todos os anos. No entanto, os países que vivem junto ao Árctico têm reagido de um modo muito individualista, querendo uma parte do Árctico. E têm esse direito. Segundo a lei do mar referente à exploração do petróleo e minerais das Nações Unidas de 1982: "qualquer país pode explorar qualquer plataforma continental que se extenda do seu território até à profundidade de 2500 metros."Por exemplo, a Rússia foi colocar uma bandeira no pólo Norte, no fundo do mar, de modo a dramatizar as suas exigências para poderem explorar o petróleo e minerais. Outros países também se têm movido neste sentido...


















(Alguns sabem o que se passa mas fazem pouquinho| Some know what is going on but do very little)


De certeza que haverá uma melhor maneira de responder ao que se está a passar no Árctico. Na verdade, ninguém deveria ter direitos sobre o Árctico, talvez com a excepção dos nossos amigos indigenas Inuit, que sempre lá viveram. Talvez em vez de dividirmos o Árctico em pedaços para os vários países explorarem, que tal protegermos o Oceano Árctico como um todo, cuja principal prioridade fosse a sua protecção ambiental?















(Outros não fazem ideia: estás a falar comigo?| Others have no clue: are you talking to me?)


O mais interessante é que este tipo de acção já foi feito no outro extremo do planeta... na Antárctida! Há 50 anos, o Tratado da Antárctica foi redigido, reunindo países do mundo, concordando em "congelar" o desejo de querer dividir a Antárctida em pedaços e devotá-lo totalmente à ciência. Será que nos últimos 50 anos teremos andado para trás em vez de olharmos para a frente, já que não conseguimos concordar sobre o que fazer com o Árctico?

E a altura certa é agora!!! O Ano Polar Internacional começa a produzir os primeiros resultados, as colaborações estabelecidas entre 2007 e 2009, estão na sua máxima força e nada seria melhor do que ser os cientistas contribuirem para resolver esta situação do Árctico? Está nas nossas mãos...













(Vamos fazer como os albatrozes viajeiros Diomedea exulans e mostrar carinho e dedicação?| Shall we do like the wandering albatrosses Diomedea exulans and care a bit?)


In such nice celebrations during MidWinter, it would be truely important reflecting on how both Arctic and Antarctic are linked. Today the Arctic faces one of its biggest challenges in its history: climate change with the resources exploration boom. As the Arctic is being affected by constant ice melting, and its implications on Earth ecosystem, numerous countries are advancing with the claims of pieces of the Arctic region. Under the UN Law of the Sea, they have the right to do so, but from what is happenning in the Arctic, couldn´t we do better? How about instead of dividing the Arctic into territorial claims we all agreed to protect it as a whole, whose main priority would be its environment? Amazingly enough, we have done it before, on the other extreme part of the planet, in Antarctica. The Antarctic Treaty, written 50 years ago, took all interested countries into "freezing" their territorial claims to Antarctica and devote it to science, while protecting it...for the good of the planet. As the International Polar Year is still in everyone´s memory, the international collaborations still on its maximum strength, could it be another great timing for scientists to take the lead and make a move towards an Arctic Treaty? It is on ours hands...

sábado, 20 de junho de 2009

Celebrações em Junho?| Mid-Winter Celebrations

A escrever a partir de Bird Island, Geórgia do Sul (Antárctica)
Writing from Bird Island, South Georgia (Antarctic)

















(A partir daqui, o sol virá cada vez mais tempo...| from now on, the sun will shine for longer...)


Quem diria que no dia 21 de Junho é um dos dias mais importantes do calendário na Antárctica! Todas as bases na Antárctica enviam cumprimentos umas às outras, festas são planeadas, decorações são postas por todas as bases, presentes feitos para dar uns aos outros (eu já fiz o meu!), grandes jantares são organizados e até a BBC World Service organiza um programa de rádio dedicado ao MidWinter day, onde mensagens são enviadas por rádio a vários membros das bases Britânicas na Antárctica. Isto deve-se a estarmos a celebrar "Mid-Winter"! Este é um dia celebrado por todas as estações internacionais na Antárctica, desde a Geórgia do Sul até ao pólo sul. Já recebemos mensagens das restantes estações Britânicas, e de outras bases de numerosos países de todo o mundo (USA, India, Uruguai, Austrália, Japão, França, Itália, Alemanha, Nova Zelândia, Ucrânia, Noruega,...)



















(Convite da estação Americana Amundsen-Scott, no pólo Sul| Invitation from Amundsen-Scott station, South Pole 2009)

Entre os dias 20-21 de Junho de cada ano, o sol encontra-se à sua máxima distância da Antárctica (solstício de Inverno no hemisfério Sul, com a Antárctida totalmente na escuridão) e partir daí inicia-se o retorno do sol do hemisfério norte para o hemisfério sul. E claro que temos de celebrar tal evento! Assim, a partir de amanhã, os dias vão começar a ficar maiores, sendo o dia 21 de Junho o mais pequeno e o mais escuro do Ano no hemisfério sul. Em contraste, em Portugal, é o início do Verão, com este dia como o maior do ano de luz. De momento, em Bird Island temos 6-7 horas de dia mas parecem 3-4 pois o sol parece nunca sair do horizonte para o céu.










(Banquete preparado numa das bases Australianas| Banquet ready in one of the Australian research bases © Lionel W, Australian Antarctic Division)

Apesar do solstício (que significa "o sol estar parado" do latim) durar apenas um instante, nós chamamos-lhe "midwinter". Talvez também porque para os cientistas na Antárctica, na prática o Inverno começa quando os navios cientificos vão para norte em Abril e começam a regressar à Antárctica em Setembro/Outubro... assim faz sentido chamar-lhe "o meio do Inverno".




















(A rádio BBC tem um program especial para todos que estão na Antárctica| BBC world service has its own programme directed to celebrate MidWinter)

E não é uma celebração nova. O "Midwinter" pode ser registado desde os dias de Scott, Shackleton, Admunsen e de outros numerosos exploradores do início do Séc. XX .



















(Celebrações do MidWinter de Ernest Shackleton em 1908| Midwinter Day celebrations at Cape Royds 1908 © Scott Polar Research Institute, Cambridge)

Em Bird Island a festa vem já a caminho...com convidados, incluimos focas, pinguins e albatrosses, e isso não é para todos....


MidWinter is probably the most important day in the Antarctic calendar, particularly for those being in the Antarctic during the Winter. Celebrations of MidWinter come from celebrating the shortest and darkest day of the Antarctic Winter (21 June), as from there on, the days will get bigger and the sun is on tis way (due to the Winter solstice). All research bases in Antarctica send best regards and messages. It is so nice to suddenly receive news from scientists, just like you, but from Japan, Germany, USA or Uruguay research bases. MidWinter is coming...hurray!

domingo, 14 de junho de 2009

Doutor sou eu! I am the Doctor!

A escrever a partir de Bird Island, Geórgia do Sul (Antárctica)
Writing from Bird Island, South Georgia (Antarctic)











Como somos apenas 5 cientistas aqui, temos um cozinheiro ou médico só para nós? A resposta é simples: Não! Todos nós participamos em tudo, desde cozinhar, trabalhos de gestão da base (exemplos da rotina diária de ligar ou desligar a energia, cuidar dos motores) e até sermos médicos. Daí ser necessário tirar uma serie de cursos de urgência médica, de socorro em situações extremas, segurança no trabalho, de motores,...de modo a acontecer alguma coisa, qualquer um de nós pode resolver a situação. É que o hospital mais próximo está a mais de 1000 km de distância...


















(Ewan a ver o ritmo cardiaco de Dave| Ewan checking heart rate of Dave for practise)


Este mês tivemos várias experiências associadas a isso: O Ewan teve uma dor de dentes. Todos nós na base esfregamos as mãos de contentes...vamos finalmente aplicar alguns dos nossos conhecimentos de dentista! A eleita desta vez foi a Stacey (que estuda pinguins) e todos ajudamos...

















(A dentista Stacey e os dentistas auxiliares| Dentist Stacey and the rest of the dental team)


O Dave (o técnico responsável pela manutenção da base, ao nível de engenharia mecânica, motores e afins) precisou de uma injecção umas poucas de vezes...e aí todos nós na base tivemos o privilégio de lhe dar uma picada!
















(Ewan, Dave e Stacey com a seringa| Ewan, Dave and Stacey with the needle ready to go!)


E cozinhar cabe a cada um de nós uma vez de 5 em 5 dias (se fossemos 6 pessoas seria de 6 em 6 dias...). A limpeza da base é todas as Sextas-feiras e temos uma tarefa diferente todas as semanas, desde cuidar do laboratório a lavar as cortinas dos chuveiros, desde de limpar a cozinha até varrer o chão...toda a gente tem a sua tarefa. Quem cozinhar nos Sábados, tem de fazer 3 pratos, com soupa, prato principal e sobremesa...e neste dia fazemos um esforço para passarmos a noite a conversar pois nos outros dias alguns de nós tem ainda coisas para fazer (como eu, que muitas vezes tenho de voltar ao laboratório para acabar amostras). Eu já cozinhei várias coisas tipicamente portuguesas, como bife na brasa com batatas fritas, peixe no forno, soupa de abóbora... mesmo que a variedade de produtos não seja tão grande como estivessemos no supermercado, sempre dá para algumas aventuras culinárias.


In a research base of 5 scientists, do you think we have a dentist and a medical doctor with us? Unfortunately not! All of us on base do everythnig, that is why we have to do numerous courses before coming to the Antarctic...because the next hospital is more than a 1000 km away. This month Ewan had a small dental probalem easily solved by the "dentist" Stacey, Dave got his heart rate evaluated and his bottom got a vaccine (all of us had a go:))))). And we also cook...every 5 days, one of us cooks...the choices are endless!!!

domingo, 7 de junho de 2009

A Neve!| Snow

A escrever a partir de Bird Island, Geórgia do Sul (Antárctica)
Writing from Bird Island, South Georgia (Antarctic)
























(A beleza da neve a deixar-se contornar pelas lindas marcas das patas um albatroz viajeiro Diomedea exulans| the beauty of the snow letting itself be marked by wandering albatross Diomedea exulans footsteps|


Eu adoro neve!!! Talvez porque sempre fui atraído por ela desde que nevou uma vez quando tinha 5 ou 6 aninhos no Ribatejo e deixou tudo branco (a festa que foi lá em casa para ir para a rua brincar), e talvez desde aí o impacto de a ver é sempre enorme. Aqui desde Abril que o tempo tem oscilado muito, entre dias quentes (acima dos 0 graus) e aqueles dias de neve lindos cada vez mais frequentes. E o resultado desta indefinição é uma autêntica festa todas as manhãs, pois parece sempre ser uma ilha diferente: ou mais verde com cores vivas ou virada para o cristalino branco.



































(Abril e Junho à frente do lago "Prion": ver as diferenças| April and June in front of Prion pond: check out the differences)

Existe diferentes tipos de neve. Aliás, no Árctico, os povos indígenas (como os Inuit, Aivilik e os Igloolik) possuem mais de 30 palavras para neve. E isso confirma-se aqui na Antárctica. Como tenho de estar muito tempo fora entre albatrozes e pinguins , tem dado para testar isso mesmo, mas como Português não passo de umas poucas descrições para diferentes tipos de neve. Existe um tipo de neve "tipo pó" (muito leve), neve "tipo gelo" (ainda é neve mas já se mistura com gelo e torna muito compacta e que já se encontra no chão) e neve "tipo granizo" (não é bem granizo pois não são pedras de gelo mas é neve dura que magoa na cara, principalmente naqueles dias típicos de ventos fortes e neve). Já houve dias em que não conseguia abrir os olhos pois a neve a cair era tanta, e o vento tão forte, que me impossibilitava de ver o quer que fosse. Aqui, os óculos para a neve são fundamentais. E umas boas luvas...aqueles dias bem frios quando as pontas dos dedos começam a doer...

















(A água é fabulosa na sua diversidade de forma, não é?| Water is fascinating on its variety of forms)



E todos animais têm de lidar com tudo isto. Nas encostas da ilha, as otárias do Antárctico adoram neve. E é vê-las deslizar na neve até às praias, e muitas voltam às encostas para voltar a descer numa autêntica romaria de diversão. Elas brincam com a neve, deslizam na neve, comem a neve, põem o nariz debaixo da neve, dancam com a neve...





















(Um filhote de um albatroz viajeiro Diomedea exulans em Abril| A wandering albatross chick Diomedea exulans in April)


Os filhotes dos albatrozes viajeiros estão em casa. Esteja a nevar ou a fazer sol, para eles tanto lhes faz. Mas quando há uma tempestade de neve, é vê-los a segurarem-se no ninho contra o vento (e conseguem-no fazer muito bem), com a penugem congelada...mantendo o seu olhar curioso de quem começou a vida à semanas.


















(Filhote de um albatroz viajeiro Diomedea exulans numa tempestade de neve esta semana. Reparar no gelo e no estilo de penteado....| A wandering albatross chick Diomedea exulans this week during a snow storm... attention should be paid to the ice and to the hair style)


Snow is an amazing element of nature! As I am not used to it, I find it fascinating. The Arctic indigenous people people has more than 30 words in their language to describe snow. As I am not used to snow, I can come up with 4 descriptions of snow only;) Bird Island is oscilating between green (typical of Summer) to white when covered with snow. Therefore, everyday I wake up with the feeling on being in a different island everytime. Lucky me! The Antarctic fur seals and the albatrosses are totally used to the snow and is so nice watching fur seals playing in the snow...welcome snow!!!!!